Sabe,
meu bem, fazia tempo que eu não ia à praia encontrar você sentado onde você
sempre senta e observa todo mundo que passa. Calado, escuta cada palavra que eu
diga e nunca atrapalha. É que eu estive por aí na corrida do enlouquecida do
sifrão que nos cerca. Todo final de mês é a mesma coisa. E, meu bem, não se
preocupe, eu não consegui conversar com ninguém. É que nessa época a corrida
não é só minha, não, e não sobra um cristão pra uma conversa dessas.
Dia
desses ouvi um cara na rua dizer para o
outro que, recém voltado de São Paulo presenciou uma cena indo buscar o metrô,
ele dizia que do lado direito da escada rolante ninguém ia, é a parte dos que
passam correndo e quem estiver no caminho, se prepare, vai ser pisoteado!
Fiquei de cara, mas vou entendendo cada vez mais onde estamos vivendo. Ou
melhor, morrendo.
Na
sexta fui a um bar, você sabe, gosto de ter a desculpa de ouvir a conversa dos
outros aí me pago uma bebida para. O fato é que duas mulheres, já deviam estar
no terceiro litro de conhaque, quando diziam da coisa de não ter alguém que te
ouça. Uma delas reclamava do namorado que jamais a telefonava para nada. Ela
queria alguém ligando para ela para não falar nada. Ou seja, alguém que não
precisasse de um motivo inicial para uma conversa ao telefone, já que presença
não tinha. E trabalhavam na mesma empresa, vivendo por uma parede que os
separassem.
Aí
no caminho encontro um bêbado, devia ter saído do mesmo bar. Me assustou quando
cheguei na esquina e ele me abordou dizendo: "Eu bebo para viver, tantas
pessoas não bebem e estão morrendo."
Eu
não sei, meu bem, é tanta coisa estranha acontecendo. O homem anda se perdendo
na coisa mais simples que é a vida. Eu não sei aonde vamos se a coisa continuar.
Estamos surdos-mudos o tempo todo, piloto automático.
Diálogo.
É preciso reaprender a dialogar. Se eu soubesse, não precisaria vir aqui na
praia de Copacabana porque a única pessoa que me ouve é a estátua de Carlos
Drummond.
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