Pensando que a gente podia se encontrar.
Em qualquer lugar que não espero - ninguém espera;
Como o ponto de ônibus, pra onde olho e brigo: “Ninguém encontra o amor de sua vida em um ponto de ônibus.”
E a gente se desse bem, independente de a gente não se dá bem.
E apesar de não gostarmos de fazer amor do jeito que o outro propõe, fosse um ensinando o outro.
Um dia se aprende que amor é gozo e não há outro.
E aí, a gente confiaria nossos segredos, sem medo, sem julgamento. Pra que a gente pudesse ser, sem medo de ser pro outro.
Sem essa de inferno ser o outro. Sendo.
Vez em quando marcar de não fazer nada. Ficar só ficando.
Vez em quando brigasse. Mas não sofresse com isso. Fosse briga boa e necessária.
Ao invés de briga não boa, conversasse aquela conversa chata que ninguém quer conversar.
E ouvisse muita música juntos! Cantasse alto e desentonado comendo morangos com chantilly e mais um ingrediente que fizesse o prato virar gororoba. Que a vida precisa disso.
A gente não perderia uma sessão de cinema só. Pra que o outro tivesse liberdade e na próxima, naturalmente, convidasse o outro. Mas na nossa ida, não faltasse o passeio na feira do artesanato e o acarajé da baiana. Cabelo no vento, livre arbítrio.
A gente podia se conhecer, inclusive, logo. Para que as outras coisas vivêssemos na prática. Simples, consciente e amando. Como amamos agora.
E não sabemos.
Não sabemos tanto que parece até um amor de amar todo mundo que nos aparecesse, e por esse amor ser sentido anteriormente, adaptamos toda uma vida em prol daquela e no fim:
despedida.
E a gente vai se perdendo um do outro em cada uma dessas despedidas. O medo é a gente se afastar totalmente. E impedir mais ainda esse encontro.
É que todas
essas pessoas,
que não é você,
que não sou eu,
leva um pedaço que a gente vinha guardando. Uma surpresa, um filme, uma lingerie! Ou até mesmo aquele poema que a gente guarda em si pra si.
Então não vou desistir. E penso que você também não deve.
Tá, vez em quando eu faço essas desistências. E volto pra estrada porque você, em algum lugar me fala.
Então, apesar de nunca mostrar a ninguém a minha geladeira, eu vou deixar esse recado colado nela pra que você veja. Mas quando você chegar, não pensa que é regra, não. É só um recado de geladeira...
Pensando que quando você chegar, vou deixar de ser recado de geladeira...